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João
21 capítulos
Capítulo - 1
1 - No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
2 - Ele estava no princípio com Deus.
3 - Todas as coisas foram feitas por intermédio dele, e sem ele nada do que foi feito se fez.
4 - Nele estava a vida, e a vida era a luz dos homens;
5 - a luz resplandece nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela.
6 - Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João.
7 - Este veio como testemunha, a fim de dar testemunho da luz, para que todos cressem por meio dele.
8 - Ele não era a luz, mas veio para dar testemunho da luz.
9 - Pois a verdadeira luz, que alumia a todo homem, estava chegando ao mundo.
10 - Estava ele no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o conheceu.
11 - Veio para o que era seu, e os seus não o receberam.
12 - Mas, a todos quantos o receberam, aos que crêem no seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus;
13 - os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do varão, mas de Deus.
14 - E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade; e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai.
15 - João deu testemunho dele, e clamou, dizendo: Este é aquele de quem eu disse: O que vem depois de mim, passou adiante de mim; porque antes de mim ele já existia.
16 - Pois todos nós recebemos da sua plenitude, e graça sobre graça.
17 - Porque a lei foi dada por meio de Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo.
18 - Ninguém jamais viu a Deus. O Deus unigênito, que está no seio do Pai, esse o deu a conhecer.
19 - E este foi o testemunho de João, quando os judeus lhe enviaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu?
20 - Ele, pois, confessou e não negou; sim, confessou: Eu não sou o Cristo.
21 - Ao que lhe perguntaram: Pois que? És tu Elias? Respondeu ele: Não sou. És tu o profeta? E respondeu: Não.
22 - Disseram-lhe, pois: Quem és? para podermos dar resposta aos que nos enviaram; que dizes de ti mesmo?
23 - Respondeu ele: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías.
24 - E os que tinham sido enviados eram dos fariseus.
25 - Então lhe perguntaram: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta?
26 - Respondeu-lhes João: Eu batizo em água; no meio de vós está um a quem vós não conheceis.
27 - aquele que vem depois de mim, de quem eu não sou digno de desatar a correia da alparca.
28 - Estas coisas aconteceram em Betânia, além do Jordão, onde João estava batizando.
29 - No dia seguinte João viu a Jesus, que vinha para ele, e disse: Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo.
30 - este é aquele de quem eu disse: Depois de mim vem um varão que passou adiante de mim, porque antes de mim ele já existia.
31 - Eu não o conhecia; mas, para que ele fosse manifestado a Israel, é que vim batizando em água.
32 - E João deu testemunho, dizendo: Vi o Espírito descer do céu como pomba, e repousar sobre ele.
33 - Eu não o conhecia; mas o que me enviou a batizar em água, esse me disse: Aquele sobre quem vires descer o Espírito, e sobre ele permanecer, esse é o que batiza no Espírito Santo.
34 - Eu mesmo vi e já vos dei testemunho de que este é o Filho de Deus.
35 - No dia seguinte João estava outra vez ali, com dois dos seus discípulos
36 - e, olhando para Jesus, que passava, disse: Eis o Cordeiro de Deus!
37 - Aqueles dois discípulos ouviram-no dizer isto, e seguiram a Jesus.
38 - Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes: Que buscais? Disseram-lhe eles: rabi {que, traduzido, quer dizer Mestre}, onde pousas?
39 - Respondeu-lhes: Vinde, e vereis. Foram, pois, e viram onde pousava; e passaram o dia com ele; era cerca da hora décima.
40 - André, irmão de Simão Pedro, era um dos dois que ouviram João falar, e que seguiram a Jesus.
41 - Ele achou primeiro a seu irmão Simão, e disse-lhe: Havemos achado o Messias {que, traduzido, quer dizer Cristo}.
42 - E o levou a Jesus. Jesus, fixando nele o olhar, disse: Tu és Simão, filho de João, tu serás chamado Cefas {que quer dizer Pedro}.
43 - No dia seguinte Jesus resolveu partir para a Galiléia, e achando a Felipe disse-lhe: Segue-me.
44 - Ora, Felipe era de Betsaida, cidade de André e de Pedro.
45 - Felipe achou a Natanael, e disse-lhe: Acabamos de achar aquele de quem escreveram Moisés na lei, e os profetas: Jesus de Nazaré, filho de José.
46 - Perguntou-lhe Natanael: Pode haver coisa bem vinda de Nazaré? Disse-lhe Felipe: Vem e vê.
47 - Jesus, vendo Natanael aproximar-se dele, disse a seu respeito: Eis um verdadeiro israelita, em quem não há dolo!
48 - Perguntou-lhe Natanael: Donde me conheces? Respondeu-lhe Jesus: Antes que Felipe te chamasse, eu te vi, quando estavas debaixo da figueira.
49 - Respondeu-lhe Natanael: Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és rei de Israel.
50 - Ao que lhe disse Jesus: Porque te disse: Vi-te debaixo da figueira, crês? coisas maiores do que estas verás.
51 - E acrescentou: Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto, e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do homem.
Capítulo - 2
1 - Três dias depois, houve um casamento em Caná da Galiléia, e estava ali a mãe de Jesus;
2 - e foi também convidado Jesus com seus discípulos para o casamento.
3 - E, tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: Eles não têm vinho.
4 - Respondeu-lhes Jesus: Mulher, que tenho eu contigo? Ainda não é chegada a minha hora.
5 - Disse então sua mãe aos serventes: Fazei tudo quanto ele vos disser.
6 - Ora, estavam ali postas seis talhas de pedra, para as purificações dos judeus, e em cada uma cabiam duas ou três metretas.
7 - Ordenou-lhe Jesus: Enchei de água essas talhas. E encheram-nas até em cima.
8 - Então lhes disse: Tirai agora, e levai ao mestre-sala. E eles o fizeram.
9 - Quando o mestre-sala provou a água tornada em vinho, não sabendo donde era, se bem que o sabiam os serventes que tinham tirado a água, chamou o mestre-sala ao noivo
10 - e lhe disse: Todo homem põe primeiro o vinho bom e, quando já têm bebido bem, então o inferior; mas tu guardaste até agora o bom vinho.
11 - Assim deu Jesus início aos seus sinais em Caná da Galiléia, e manifestou a sua glória; e os seus discípulos creram nele.
12 - Depois disso desceu a Cafarnaum, ele, sua mãe, seus irmãos, e seus discípulos; e ficaram ali não muitos dias.
13 - Estando próxima a páscoa dos judeus, Jesus subiu a Jerusalém.
14 - E achou no templo os que vendiam bois, ovelhas e pombas, e também os cambistas ali sentados;
15 - e tendo feito um azorrague de cordas, lançou todos fora do templo, bem como as ovelhas e os bois; e espalhou o dinheiro dos cambistas, e virou-lhes as mesas;
16 - e disse aos que vendiam as pombas: Tirai daqui estas coisas; não façais da casa de meu Pai casa de negócio.
17 - Lembraram-se então os seus discípulos de que está escrito: O zelo da tua casa me devorará.
18 - Protestaram, pois, os judeus, perguntando-lhe: Que sinal de autoridade nos mostras, uma vez que fazes isto?
19 - Respondeu-lhes Jesus: Derribai este santuário, e em três dias o levantarei.
20 - Disseram, pois, os judeus: Em quarenta e seis anos foi edificado este santuário, e tu o levantarás em três dias?
21 - Mas ele falava do santuário do seu corpo.
22 - Quando, pois ressurgiu dentre os mortos, seus discípulos se lembraram de que dissera isto, e creram na Escritura, e na palavra que Jesus havia dito.
23 - Ora, estando ele em Jerusalém pela festa da páscoa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome.
24 - Mas o próprio Jesus não confiava a eles, porque os conhecia a todos,
25 - e não necessitava de que alguém lhe desse testemunho do homem, pois bem sabia o que havia no homem.
Capítulo - 3
1 - Ora, havia entre os fariseus um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus.
2 - Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.
3 - Respondeu-lhe Jesus: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.
4 - Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode um homem nascer, sendo velho? porventura pode tornar a entrar no ventre de sua mãe, e nascer?
5 - Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo que se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus.
6 - O que é nascido da carne é carne, e o que é nascido do Espírito é espírito.
7 - Não te admires de eu te haver dito: Necessário vos é nascer de novo.
8 - O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.
9 - Perguntou-lhe Nicodemos: Como pode ser isto?
10 - Respondeu-lhe Jesus: Tu és mestre em Israel, e não entendes estas coisas?
11 - Em verdade, em verdade te digo que nós dizemos o que sabemos e testemunhamos o que temos visto; e não aceitais o nosso testemunho!
12 - Se vos falei de coisas terrestres, e não credes, como crereis, se vos falar das celestiais?
13 - Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que desceu do céu, o Filho do homem.
14 - E como Moisés levantou a serpente no deserto, assim importa que o Filho do homem seja levantado;
15 - para que todo aquele que nele crê tenha a vida eterna.
16 - Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.
17 - Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por ele.
18 - Quem crê nele não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
19 - E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más.
20 - Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas.
21 - Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus.
22 - Depois disto foi Jesus com seus discípulos para a terra da Judéia, onde se demorou com eles e batizava.
23 - Ora, João também estava batizando em Enom, perto de Salim, porque havia ali muitas águas; e o povo ia e se batizava.
24 - Pois João ainda não fora lançado no cárcere.
25 - Surgiu então uma contenda entre os discípulos de João e um judeu acerca da purificação.
26 - E foram ter com João e disseram-lhe: Rabi, aquele que estava contigo além do Jordão, do qual tens dado testemunho, eis que está batizando, e todos vão ter com ele.
27 - Respondeu João: O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu.
28 - Vós mesmos me sois testemunhas de que eu disse: Não sou o Cristo, mas sou enviado adiante dele.
29 - Aquele que tem a noiva é o noivo; mas o amigo do noivo, que está presente e o ouve, regozija-se muito com a voz do noivo. Assim, pois, este meu gozo está completo.
30 - É necessário que ele cresça e que eu diminua.
31 - Aquele que vem de cima é sobre todos; aquele que vem da terra é da terra, e fala da terra. Aquele que vem do céu é sobre todos.
32 - Aquilo que ele tem visto e ouvido, isso testifica; e ninguém aceita o seu testemunho.
33 - Mas o que aceitar o seu testemunho, esse confirma que Deus é verdadeiro.
34 - Pois aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; porque Deus não dá o Espírito por medida.
35 - O Pai ama ao Filho, e todas as coisas entregou nas suas mãos.
36 - Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, porém, desobedece ao Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus.
Capítulo - 4
1 - Quando, pois, o Senhor soube que os fariseus tinham ouvido dizer que ele, Jesus, fazia e batizava mais discípulos do que João
2 - {ainda que Jesus mesmo não batizava, mas os seus discípulos}
3 - deixou a Judéia, e foi outra vez para a Galiléia.
4 - E era-lhe necessário passar por Samária.
5 - Chegou, pois, a uma cidade de Samária, chamada Sicar, junto da herdade que Jacó dera a seu filho José;
6 - achava-se ali o poço de Jacó. Jesus, pois, cansado da viagem, sentou-se assim junto do poço; era cerca da hora sexta.
7 - Veio uma mulher de Samária tirar água. Disse-lhe Jesus: Dá-me de beber.
8 - Pois seus discípulos tinham ido à cidade comprar comida.
9 - Disse-lhe então a mulher samaritana: Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? {Porque os judeus não se comunicavam com os samaritanos.}
10 - Respondeu-lhe Jesus: Se tivesses conhecido o dom de Deus e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe terias pedido e ele te haveria dado água viva.
11 - Disse-lhe a mulher: Senhor, tu não tens com que tirá-la, e o poço é fundo; donde, pois, tens essa água viva?
12 - És tu, porventura, maior do que o nosso pai Jacó, que nos deu o poço, do qual também ele mesmo bebeu, e os filhos, e o seu gado?.
13 - Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede;
14 - mas aquele que beber da água que eu lhe der nunca terá sede; pelo contrário, a água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna.
15 - Disse-lhe a mulher: Senhor, dá-me dessa água, para que não mais tenha sede, nem venha aqui tirá-la.
16 - Disse-lhe Jesus: Vai, chama o teu marido e vem cá.
17 - Respondeu a mulher: Não tenho marido. Disse-lhe Jesus: Disseste bem: Não tenho marido;
18 - porque cinco maridos tiveste, e o que agora tens não é teu marido; isso disseste com verdade.
19 - Disse-lhe a mulher: Senhor, vejo que és profeta.
20 - Nossos pais adoraram neste monte, e vós dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar.
21 - Disse-lhe Jesus: Mulher, crê-me, a hora vem, em que nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai.
22 - Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos; porque a salvação vem dos judeus.
23 - Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem.
24 - Deus é Espírito, e é necessário que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.
25 - Replicou-lhe a mulher: Eu sei que vem o Messias {que se chama o Cristo}; quando ele vier há de nos anunciar todas as coisas.
26 - Disse-lhe Jesus: Eu o sou, eu que falo contigo.
27 - E nisto vieram os seus discípulos, e se admiravam de que estivesse falando com uma mulher; todavia nenhum lhe perguntou: Que é que procuras? ou: Por que falas com ela?
28 - Deixou, pois, a mulher o seu cântaro, foi à cidade e disse àqueles homens:
29 - Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto eu tenho feito; será este, porventura, o Cristo?
30 - Saíram, pois, da cidade e vinham ter com ele.
31 - Entrementes os seus discípulos lhe rogavam, dizendo: Rabi, come.
32 - Ele, porém, respondeu: Uma comida tenho para comer que vós não conheceis.
33 - Então os discípulos diziam uns aos outros: Acaso alguém lhe trouxe de comer?
34 - Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e completar a sua obra.
35 - Não dizeis vós: Ainda há quatro meses até que venha a ceifa? Ora, eu vos digo: levantai os vossos olhos, e vede os campos, que já estão brancos para a ceifa.
36 - Quem ceifa já está recebendo recompensa e ajuntando fruto para a vida eterna; para que o que semeia e o que ceifa juntamente se regozijem.
37 - Porque nisto é verdadeiro o ditado: Um é o que semeia, e outro o que ceifa.
38 - Eu vos enviei a ceifar onde não trabalhaste; outros trabalharam, e vós entrastes no seu trabalho.
39 - E muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher, que testificava: Ele me disse tudo quanto tenho feito.
40 - Indo, pois, ter com ele os samaritanos, rogaram-lhe que ficasse com eles; e ficou ali dois dias.
41 - E muitos mais creram por causa da palavra dele;
42 - e diziam à mulher: Já não é pela tua palavra que nós cremos; pois agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo.
43 - Passados os dois dias partiu dali para a Galiléia.
44 - Porque Jesus mesmo testificou que um profeta não recebe honra na sua própria pátria.
45 - Assim, pois, que chegou à Galiléia, os galileus o receberam, porque tinham visto todas as coisas que fizera em Jerusalém na ocasião da festa; pois também eles tinham ido à festa.
46 - Foi, então, outra vez a Caná da Galiléia, onde da água fizera vinho. Ora, havia um oficial do rei, cujo filho estava enfermo em Cafarnaum.
47 - Quando ele soube que Jesus tinha vindo da Judéia para a Galiléia, foi ter com ele, e lhe rogou que descesse e lhe curasse o filho; pois estava à morte.
48 - Então Jesus lhe disse: Se não virdes sinais e prodígios, de modo algum crereis.
49 - Rogou-lhe o oficial: Senhor, desce antes que meu filho morra.
50 - Respondeu-lhe Jesus: Vai, o teu filho vive. E o homem creu na palavra que Jesus lhe dissera, e partiu.
51 - Quando ele já ia descendo, saíram-lhe ao encontro os seus servos, e lhe disseram que seu filho vivia.
52 - Perguntou-lhes, pois, a que hora começara a melhorar; ao que lhe disseram: Ontem à hora sétima a febre o deixou.
53 - Reconheceu, pois, o pai ser aquela hora a mesma em que Jesus lhe dissera: O teu filho vive; e creu ele e toda a sua casa.
54 - Foi esta a segunda vez que Jesus, ao voltar da Judéia para a Galiléia, ali operou sinal.
Capítulo - 5
1 - Depois disso havia uma festa dos judeus; e Jesus subiu a Jerusalém.
2 - Ora, em Jerusalém, próximo à porta das ovelhas, há um tanque, chamado em hebraico Betesda, o qual tem cinco alpendres.
3 - Nestes jazia grande multidão de enfermos, cegos, mancos e ressicados {esperando o movimento da água.}
4 - {Porquanto um anjo descia em certo tempo ao tanque, e agitava a água; então o primeiro que ali descia, depois do movimento da água, sarava de qualquer enfermidade que tivesse.}
5 - Achava-se ali um homem que, havia trinta e oito anos, estava enfermo.
6 - Jesus, vendo-o deitado e sabendo que estava assim havia muito tempo, perguntou-lhe: Queres ficar são?
7 - Respondeu-lhe o enfermo: Senhor, não tenho ninguém que, ao ser agitada a água, me ponha no tanque; assim, enquanto eu vou, desce outro antes de mim.
8 - Disse-lhe Jesus: Levanta-te, toma o teu leito e anda.
9 - Imediatamente o homem ficou são; e, tomando o seu leito, começou a andar. Ora, aquele dia era sábado.
10 - Pelo que disseram os judeus ao que fora curado: Hoje é sábado, e não te é lícito carregar o leito.
11 - Ele, porém, lhes respondeu: Aquele que me curou, esse mesmo me disse: Toma o teu leito e anda.
12 - Perguntaram-lhe, pois: Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda?
13 - Mas o que fora curado não sabia quem era; porque Jesus se retirara, por haver muita gente naquele lugar.
14 - Depois Jesus o encontrou no templo, e disse-lhe: Olha, já estás curado; não peques mais, para que não te suceda coisa pior.
15 - Retirou-se, então, o homem, e contou aos judeus que era Jesus quem o curara.
16 - Por isso os judeus perseguiram a Jesus, porque fazia estas coisas no sábado.
17 - Mas Jesus lhes respondeu: Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também.
18 - Por isso, pois, os judeus ainda mais procuravam matá-lo, porque não só violava o sábado, mas também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus.
19 - Disse-lhes, pois, Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que o Filho de si mesmo nada pode fazer, senão o que vir o Pai fazer; porque tudo quanto ele faz, o Filho o faz igualmente.
20 - Porque o Pai ama ao Filho, e mostra-lhe tudo o que ele mesmo faz; e maiores obras do que estas lhe mostrará, para que vos maravilheis.
21 - Pois, assim como o Pai levanta os mortos e lhes dá vida, assim também o Filho dá vida a quem ele quer.
22 - Porque o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o julgamento,
23 - para que todos honrem o Filho, assim como honram o Pai. Quem não honra o Filho, não honra o Pai que o enviou.
24 - Em verdade, em verdade vos digo que quem ouve a minha palavra, e crê naquele que me enviou, tem a vida eterna e não entra em juízo, mas já passou da morte para a vida.
25 - Em verdade, em verdade vos digo que vem a hora, e agora é, em que os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus, e os que a ouvirem viverão.
26 - Pois assim como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho ter vida em si mesmos;
27 - e deu-lhe autoridade para julgar, porque é o Filho do homem.
28 - Não vos admireis disso, porque vem a hora em que todos os que estão nos sepulcros ouvirão a sua voz e sairão:
29 - os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida, e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo.
30 - Eu não posso de mim mesmo fazer coisa alguma; como ouço, assim julgo; e o meu juízo é justo, porque não procuro a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
31 - Se eu der testemunho de mim mesmo, o meu testemunho não é verdadeiro.
32 - Outro é quem dá testemunho de mim; e sei que o testemunho que ele dá de mim é verdadeiro.
33 - Vós mandastes mensageiros a João, e ele deu testemunho da verdade;
34 - eu, porém, não recebo testemunho de homem; mas digo isto para que sejais salvos.
35 - Ele era a lâmpada que ardia e alumiava; e vós quisestes alegrar-vos por um pouco de tempo com a sua luz.
36 - Mas o testemunho que eu tenho é maior do que o de João; porque as obras que o Pai me deu para realizar, as mesmas obras que faço dão testemunho de mim que o Pai me enviou.
37 - E o Pai que me enviou, ele mesmo tem dado testemunho de mim. Vós nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua forma;
38 - e a sua palavra não permanece em vós; porque não credes naquele que ele enviou.
39 - Examinais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; e são elas que dão testemunho de mim;
40 - mas não quereis vir a mim para terdes vida!
41 - Eu não recebo glória da parte dos homens;
42 - mas bem vos conheço, que não tendes em vós o amor de Deus.
43 - Eu vim em nome de meu Pai, e não me recebeis; se outro vier em seu próprio nome, a esse recebereis.
44 - Como podeis crer, vós que recebeis glória uns dos outros e não buscais a glória que vem do único Deus?
45 - Não penseis que eu vos hei de acusar perante o Pai. Há um que vos acusa, Moisés, em quem vós esperais.
46 - Pois se crêsseis em Moisés, creríeis em mim; porque de mim ele escreveu.
47 - Mas, se não credes nos escritos, como crereis nas minhas palavras?
Capítulo - 6
1 - Depois disto partiu Jesus para o outro lado do mar da Galiléia, também chamado de Tiberíades.
2 - E seguia-o uma grande multidão, porque via os sinais que operava sobre os enfermos.
3 - Subiu, pois, Jesus ao monte e sentou-se ali com seus discípulos.
4 - Ora, a páscoa, a festa dos judeus, estava próxima.
5 - Então Jesus, levantando os olhos, e vendo que uma grande multidão vinha ter com ele, disse a Felipe: Onde compraremos pão, para estes comerem?
6 - Mas dizia isto para o experimentar; pois ele bem sabia o que ia fazer.
7 - Respondeu-lhe Felipe: Duzentos denários de pão não lhes bastam, para que cada um receba um pouco.
8 - Ao que lhe disse um dos seus discípulos, André, irmão de Simão Pedro:
9 - Está aqui um rapaz que tem cinco pães de cevada e dois peixinhos; mas que é isto para tantos?
10 - Disse Jesus: Fazei reclinar-se o povo. Ora, naquele lugar havia muita relva. Reclinaram-se aí, pois, os homens em número de quase cinco mil.
11 - Jesus, então, tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos que estavam reclinados; e de igual modo os peixes, quanto eles queriam.
12 - E quando estavam saciados, disse aos seus discípulos: Recolhei os pedaços que sobejaram, para que nada se perca.
13 - Recolheram-nos, pois e encheram doze cestos de pedaços dos cinco pães de cevada, que sobejaram aos que haviam comido.
14 - Vendo, pois, aqueles homens o sinal que Jesus operara, diziam: este é verdadeiramente o profeta que havia de vir ao mundo.
15 - Percebendo, pois, Jesus que estavam prestes a vir e levá-lo à força para o fazerem rei, tornou a retirar-se para o monte, ele sozinho.
16 - Ao cair da tarde, desceram os seus discípulos ao mar;
17 - e, entrando num barco, atravessavam o mar em direção a Cafarnaum; enquanto isso, escurecera e Jesus ainda não tinha vindo ter com eles;
18 - ademais, o mar se empolava, porque soprava forte vento.
19 - Tendo, pois, remado uns vinte e cinco ou trinta estádios, viram a Jesus andando sobre o mar e aproximando-se do barco; e ficaram atemorizados.
20 - Mas ele lhes disse: Sou eu; não temais.
21 - Então eles de boa mente o receberam no barco; e logo o barco chegou à terra para onde iam.
22 - No dia seguinte, a multidão que ficara no outro lado do mar, sabendo que não houvera ali senão um barquinho, e que Jesus não embarcara nele com seus discípulos, mas que estes tinham ido sós
23 - {contudo, outros barquinhos haviam chegado a Tiberíades para perto do lugar onde comeram o pão, havendo o Senhor dado graças};
24 - quando, pois, viram que Jesus não estava ali nem os seus discípulos, entraram eles também nos barcos, e foram a Cafarnaum, em busca de Jesus.
25 - E, achando-o no outro lado do mar, perguntaram-lhe: Rabi, quando chegaste aqui?
26 - Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que me buscais, não porque vistes sinais, mas porque comestes do pão e vos saciastes.
27 - Trabalhai, não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna, a qual o Filho do homem vos dará; pois neste, Deus, o Pai, imprimiu o seu selo.
28 - Pergutaram-lhe, pois: Que havemos de fazer para praticarmos as obras de Deus?
29 - Jesus lhes respondeu: A obra de Deus é esta: Que creiais naquele que ele enviou.
30 - Perguntaram-lhe, então: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos e te creiamos? Que operas tu?
31 - Nossos pais comeram o maná no deserto, como está escrito: Do céu deu-lhes pão a comer.
32 - Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Não foi Moisés que vos deu o pão do céu; mas meu Pai vos dá o verdadeiro pão do céu.
33 - Porque o pão de Deus é aquele que desce do céu e dá vida ao mundo.
34 - Disseram-lhe, pois: Senhor, dá-nos sempre desse pão.
35 - Declarou-lhes Jesus. Eu sou o pão da vida; aquele que vem a mim, de modo algum terá fome, e quem crê em mim jamais terá sede.
36 - Mas como já vos disse, vós me tendes visto, e contudo não credes.
37 - Todo o que o Pai me dá virá a mim; e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora.
38 - Porque eu desci do céu, não para fazer a minha vontade, mas a vontade daquele que me enviou.
39 - E a vontade do que me enviou é esta: Que eu não perca nenhum de todos aqueles que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia.
40 - Porquanto esta é a vontade de meu Pai: Que todo aquele que vê o Filho e crê nele, tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
41 - Murmuravam, pois, dele os judeus, porque dissera: Eu sou o pão que desceu do céu;
42 - e perguntavam: Não é Jesus, o filho de José, cujo pai e mãe nós conhecemos? Como, pois, diz agora: Desci do céu?
43 - Respondeu-lhes Jesus: Não murmureis entre vós.
44 - Ninguém pode vir a mim, se o Pai que me enviou não o trouxer; e eu o ressuscitarei no último dia.
45 - Está escrito nos profetas: E serão todos ensinados por Deus. Portanto todo aquele que do Pai ouviu e aprendeu vem a mim.
46 - Não que alguém tenha visto o Pai, senão aquele que é vindo de Deus; só ele tem visto o Pai.
47 - Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê tem a vida eterna.
48 - Eu sou o pão da vida.
49 - Vossos pais comeram o maná no deserto e morreram.
50 - Este é o pão que desce do céu, para que o que dele comer não morra.
51 - Eu sou o pão vivo que desceu do céu; se alguém comer deste pão, viverá para sempre; e o pão que eu darei pela vida do mundo é a minha carne.
52 - Disputavam, pois, os judeus entre si, dizendo: Como pode este dar-nos a sua carne a comer?
53 - Disse-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo: Se não comerdes a carne do Filho do homem, e não beberdes o seu sangue, não tereis vida em vós mesmos.
54 - Quem come a minha carne e bebe o meu sangue tem a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia.
55 - Porque a minha carne verdadeiramente é comida, e o meu sangue verdadeiramente é bebida.
56 - Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele.
57 - Assim como o Pai, que vive, me enviou, e eu vivo pelo Pai, assim, quem de mim se alimenta, também viverá por mim.
58 - Este é o pão que desceu do céu; não é como o caso de vossos pais, que comeram o maná e morreram; quem comer este pão viverá para sempre.
59 - Estas coisas falou Jesus quando ensinava na sinagoga em Cafarnaum.
60 - Muitos, pois, dos seus discípulos, ouvindo isto, disseram: Duro é este discurso; quem o pode ouvir?
61 - Mas, sabendo Jesus em si mesmo que murmuravam disto os seus discípulos, disse-lhes: Isto vos escandaliza?
62 - Que seria, pois, se vísseis subir o Filho do homem para onde primeiro estava?
63 - O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita; as palavras que eu vos tenho dito são espírito e são vida.
64 - Mas há alguns de vós que não crêem. Pois Jesus sabia, desde o princípio, quem eram os que não criam, e quem era o que o havia de entregar.
65 - E continuou: Por isso vos disse que ninguém pode vir a mim, se pelo Pai lhe não for concedido.
66 - Por causa disso muitos dos seus discípulos voltaram para trás e não andaram mais com ele.
67 - Perguntou então Jesus aos doze: Quereis vós também retirar-vos?
68 - Respondeu-lhe Simão Pedro: Senhor, para quem iremos nós? Tu tens as palavras da vida eterna.
69 - E nós já temos crido e bem sabemos que tu és o Santo de Deus.
70 - Respondeu-lhes Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? Contudo um de vós é o diabo.
71 - Referia-se a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era ele o que o havia de entregar, sendo um dos doze.
Capítulo - 7
1 - Depois disto andava Jesus pela Galiléia; pois não queria andar pela Judéia, porque os judeus procuravam matá-lo.
2 - Ora, estava próxima a festa dos judeus, a dos tabernáculos.
3 - Disseram-lhe, então, seus irmãos: Retira-te daqui e vai para a Judéia, para que também os teus discípulos vejam as obras que fazes.
4 - Porque ninguém faz coisa alguma em oculto, quando procura ser conhecido. Já que fazes estas coisas, manifesta-te ao mundo.
5 - Pois nem seus irmãos criam nele.
6 - Disse-lhes, então, Jesus: Ainda não é chegado o meu tempo; mas o vosso tempo sempre está presente.
7 - O mundo não vos pode odiar; mas ele me odeia a mim, porquanto dele testifico que as suas obras são más.
8 - Subi vós à festa; eu não subo ainda a esta festa, porque ainda não é chegado o meu tempo.
9 - E, havendo-lhes dito isto, ficou na Galiléia.
10 - Mas quando seus irmãos já tinham subido à festa, então subiu ele também, não publicamente, mas como em secreto.
11 - Ora, os judeus o procuravam na festa, e perguntavam: Onde está ele?
12 - E era grande a murmuração a respeito dele entre as multidões. Diziam alguns: Ele é bom. Mas outros diziam: não, antes engana o povo.
13 - Todavia ninguém falava dele abertamente, por medo dos judeus.
14 - Estando, pois, a festa já em meio, subiu Jesus ao templo e começou a ensinar.
15 - Então os judeus se admiravam, dizendo: Como sabe este letras, sem ter estudado?
16 - Respondeu-lhes Jesus: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.
17 - Se alguém quiser fazer a vontade de Deus, há de saber se a doutrina é dele, ou se eu falo por mim mesmo.
18 - Quem fala por si mesmo busca a sua própria glória; mas o que busca a glória daquele que o enviou, esse é verdadeiro, e não há nele injustiça.
19 - Não vos deu Moisés a lei? no entanto nenhum de vós cumpre a lei. Por que procurais matar-me?
20 - Respondeu a multidão: Tens demônio; quem procura matar-te?
21 - Replicou-lhes Jesus: Uma só obra fiz, e todos vós admirais por causa disto.
22 - Moisés vos ordenou a circuncisão {não que fosse de Moisés, mas dos pais}, e no sábado circuncidais um homem.
23 - Ora, se um homem recebe a circuncisão no sábado, para que a lei de Moisés não seja violada, como vos indignais contra mim, porque no sábado tornei um homem inteiramente são?
24 - Não julgueis pela aparência mas julgai segundo o reto juízo.
25 - Diziam então alguns dos de Jerusalém: Não é este o que procuram matar?
26 - E eis que ele está falando abertamente, e nada lhe dizem. Será que as autoridades realmente o reconhecem como o Cristo?
27 - Entretanto sabemos donde este é; mas, quando vier o Cristo, ninguém saberá donde ele é.
28 - Jesus, pois, levantou a voz no templo e ensinava, dizendo: Sim, vós me conheceis, e sabeis donde sou; contudo eu não vim de mim mesmo, mas aquele que me enviou é verdadeiro, o qual vós não conheceis.
29 - Mas eu o conheço, porque dele venho, e ele me enviou.
30 - Procuravam, pois, prendê-lo; mas ninguém lhe deitou as mãos, porque ainda não era chegada a sua hora.
31 - Contudo muitos da multidão creram nele, e diziam: Será que o Cristo, quando vier, fará mais sinais do que este tem feito?
32 - Os fariseus ouviram a multidão murmurar estas coisas a respeito dele; e os principais sacerdotes e os fariseus mandaram guardas para o prenderem.
33 - Disse, pois, Jesus: Ainda um pouco de tempo estou convosco, e depois vou para aquele que me enviou.
34 - Vós me buscareis, e não me achareis; e onde eu estou, vós não podeis vir.
35 - Disseram, pois, os judeus uns aos outros: Para onde irá ele, que não o acharemos? Irá, porventura, à Dispersão entre os gregos, e ensinará os gregos?
36 - Que palavra é esta que disse: Buscar-me-eis, e não me achareis; e, Onde eu estou, vós não podeis vir?
37 - Ora, no seu último dia, o grande dia da festa, Jesus pôs-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba.
38 - Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva.
39 - Ora, isto ele disse a respeito do Espírito que haviam de receber os que nele cressem; pois o Espírito ainda não fora dado, porque Jesus ainda não tinha sido glorificado.
40 - Então alguns dentre o povo, ouvindo essas palavras, diziam: Verdadeiramente este é o profeta.
41 - Outros diziam: Este é o Cristo; mas outros replicavam: Vem, pois, o Cristo da Galiléia?
42 - Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, a aldeia donde era Davi?
43 - Assim houve uma dissensão entre o povo por causa dele.
44 - Alguns deles queriam prendê-lo; mas ninguém lhe pôs as mãos.
45 - Os guardas, pois, foram ter com os principais dos sacerdotes e fariseus, e estes lhes perguntaram: Por que não o trouxestes?
46 - Responderam os guardas: Nunca homem algum falou assim como este homem.
47 - Replicaram-lhes, pois, os fariseus: Também vós fostes enganados?
48 - Creu nele porventura alguma das autoridades, ou alguém dentre os fariseus?
49 - Mas esta multidão, que não sabe a lei, é maldita.
50 - Nicodemos, um deles, que antes fora ter com Jesus, perguntou-lhes:
51 - A nossa lei, porventura, julga um homem sem primeiro ouvi-lo e ter conhecimento do que ele faz?
52 - Responderam-lhe eles: És tu também da Galiléia? Examina e vê que da Galiléia não surge profeta.
53 - {E cada um foi para sua casa.}
Capítulo - 8
1 - Mas Jesus foi para o Monte das Oliveiras.
2 - Pela manhã cedo voltou ao templo, e todo o povo vinha ter com ele; e Jesus, sentando-se o ensinava.
3 - Então os escribas e fariseus trouxeram-lhe uma mulher apanhada em adultério; e pondo-a no meio,
4 - disseram-lhe: Mestre, esta mulher foi apanhada em flagrante adultério.
5 - Ora, Moisés nos ordena na lei que as tais sejam apedrejadas. Tu, pois, que dizes?
6 - Isto diziam eles, tentando-o, para terem de que o acusar. Jesus, porém, inclinando-se, começou a escrever no chão com o dedo.
7 - Mas, como insistissem em perguntar-lhe, ergueu-se e disse-lhes: Aquele dentre vós que está sem pecado seja o primeiro que lhe atire uma pedra.
8 - E, tornando a inclinar-se, escrevia na terra.
9 - Quando ouviram isto foram saindo um a um, a começar pelos mais velhos, até os últimos; ficou só Jesus, e a mulher ali em pé.
10 - Então, erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém senão a mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou?
11 - Respondeu ela: Ninguém, Senhor. E disse-lhe Jesus: Nem eu te condeno; vai-te, e não peques mais.
12 - Então Jesus tornou a falar-lhes, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue de modo algum andará em trevas, mas terá a luz da vida.
13 - Disseram-lhe, pois, os fariseus: Tu dás testemunho de ti mesmo; o teu testemunho não é verdadeiro.
14 - Respondeu-lhes Jesus: Ainda que eu dou testemunho de mim mesmo, o meu testemunho é verdadeiro; porque sei donde vim, e para onde vou; mas vós não sabeis donde venho, nem para onde vou.
15 - Vós julgais segundo a carne; eu a ninguém julgo.
16 - E, mesmo que eu julgue, o meu juízo é verdadeiro; porque não sou eu só, mas eu e o Pai que me enviou.
17 - Ora, na vossa lei está escrito que o testemunho de dois homens é verdadeiro.
18 - Sou eu que dou testemunho de mim mesmo, e o Pai que me enviou, também dá testemunho de mim.
19 - Perguntavam-lhe, pois: Onde está teu pai? Jesus respondeu: Não me conheceis a mim, nem a meu Pai; se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai.
20 - Essas palavras proferiu Jesus no lugar do tesouro, quando ensinava no templo; e ninguém o prendeu, porque ainda não era chegada a sua hora.
21 - Disse-lhes, pois, Jesus outra vez: Eu me retiro; buscar-me-eis, e morrereis no vosso pecado. Para onde eu vou, vós não podeis ir.
22 - Então diziam os judeus: Será que ele vai suicidar-se, pois diz: Para onde eu vou, vós não podeis ir?
23 - Disse-lhes ele: Vós sois de baixo, eu sou de cima; vós sois deste mundo, eu não sou deste mundo.
24 - Por isso vos disse que morrereis em vossos pecados; porque, se não crerdes que eu sou, morrereis em vossos pecados.
25 - Perguntavam-lhe então: Quem és tu? Respondeu-lhes Jesus: Exatamente o que venho dizendo que sou.
26 - Muitas coisas tenho que dizer e julgar acerca de vós; mas aquele que me enviou é verdadeiro; e o que dele ouvi, isso falo ao mundo.
27 - Eles não perceberam que lhes falava do Pai.
28 - Prosseguiu, pois, Jesus: Quando tiverdes levantado o Filho do homem, então conhecereis que eu sou, e que nada faço de mim mesmo; mas como o Pai me ensinou, assim falo.
29 - E aquele que me enviou está comigo; não me tem deixado só; porque faço sempre o que é do seu agrado.
30 - Falando ele estas coisas, muitos creram nele.
31 - Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos;
32 - e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará.
33 - Responderam-lhe: Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém; como dizes tu: Sereis livres?
34 - Replicou-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que todo aquele que comete pecado é escravo do pecado.
35 - Ora, o escravo não fica para sempre na casa; o filho fica para sempre.
36 - Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres.
37 - Bem sei que sois descendência de Abraão; contudo, procurais matar-me, porque a minha palavra não encontra lugar em vós.
38 - Eu falo do que vi junto de meu Pai; e vós fazeis o que também ouvistes de vosso pai.
39 - Responderam-lhe: Nosso pai é Abraão. Disse-lhes Jesus: Se sois filhos de Abraão, fazei as obras de Abraão.
40 - Mas agora procurais matar-me, a mim que vos falei a verdade que de Deus ouvi; isso Abraão não fez.
41 - Vós fazeis as obras de vosso pai. Replicaram-lhe eles: Nós não somos nascidos de prostituição; temos um Pai, que é Deus.
42 - Respondeu-lhes Jesus: Se Deus fosse o vosso Pai, vós me amaríeis, porque eu saí e vim de Deus; pois não vim de mim mesmo, mas ele me enviou.
43 - Por que não compreendeis a minha linguagem? é porque não podeis ouvir a minha palavra.
44 - Vós tendes por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade; quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e pai da mentira.
45 - Mas porque eu digo a verdade, não me credes.
46 - Quem dentre vós me convence de pecado? Se digo a verdade, por que não me credes?
47 - Quem é de Deus ouve as palavras de Deus; por isso vós não as ouvis, porque não sois de Deus.
48 - Responderam-lhe os judeus: Não dizemos com razão que és samaritano, e que tens demônio?
49 - Jesus respondeu: Eu não tenho demônio; antes honro a meu Pai, e vós me desonrais.
50 - Eu não busco a minha glória; há quem a busque, e julgue.
51 - Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte.
52 - Disseram-lhe os judeus: Agora sabemos que tens demônios. Abraão morreu, e também os profetas; e tu dizes: Se alguém guardar a minha palavra, nunca provará a morte!
53 - Porventura és tu maior do que nosso pai Abraão, que morreu? Também os profetas morreram; quem pretendes tu ser?
54 - Respondeu Jesus: Se eu me glorificar a mim mesmo, a minha glória não é nada; quem me glorifica é meu Pai, do qual vós dizeis que é o vosso Deus;
55 - e vós não o conheceis; mas eu o conheço; e se disser que não o conheço, serei mentiroso como vós; mas eu o conheço, e guardo a sua palavra.
56 - Abraão, vosso pai, exultou por ver o meu dia; viu-o, e alegrou-se.
57 - Disseram-lhe, pois, os judeus: Ainda não tens cinqüenta anos, e viste Abraão?
58 - Respondeu-lhes Jesus: Em verdade, em verdade vos digo que antes que Abraão existisse, eu sou.
59 - Então pegaram em pedras para lhe atirarem; mas Jesus ocultou-se, e saiu do templo.
Capítulo - 9
1 - E passando Jesus, viu um homem cego de nascença.
2 - Perguntaram-lhe os seus discípulos: Rabi, quem pecou, este ou seus pais, para que nascesse cego?
3 - Respondeu Jesus: Nem ele pecou nem seus pais; mas foi para que nele se manifestem as obras de Deus.
4 - Importa que façamos as obras daquele que me enviou, enquanto é dia; vem a noite, quando ninguém pode trabalhar.
5 - Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo.
6 - Dito isto, cuspiu no chão e com a saliva fez lodo, e untou com lodo os olhos do cego,
7 - e disse-lhe: Vai, lava-te no tanque de Siloé {que significa Enviado}. E ele foi, lavou-se, e voltou vendo.
8 - Então os vizinhos e aqueles que antes o tinham visto, quando mendigo, perguntavam: Não é este o mesmo que se sentava a mendigar?
9 - Uns diziam: É ele. E outros: Não é, mas se parece com ele. Ele dizia: Sou eu.
10 - Perguntaram-lhe, pois: Como se te abriram os olhos?
11 - Respondeu ele: O homem que se chama Jesus fez lodo, untou-me os olhos, e disse-me: Vai a Siloé e lava-te. Fui, pois, lavei-me, e fiquei vendo.
12 - E perguntaram-lhe: Onde está ele? Respondeu: Não sei.
13 - Levaram aos fariseus o que fora cego.
14 - Ora, era sábado o dia em que Jesus fez o lodo e lhe abriu os olhos.
15 - Então os fariseus também se puseram a perguntar-lhe como recebera a vista. Respondeu-lhes ele: Pôs-me lodo sobre os olhos, lavei-me e vejo.
16 - Por isso alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de Deus; pois não guarda o sábado. Diziam outros: Como pode um homem pecador fazer tais sinais? E havia dissensão entre eles.
17 - Tornaram, pois, a perguntar ao cego: Que dizes tu a respeito dele, visto que te abriu os olhos? E ele respondeu: É profeta.
18 - Os judeus, porém, não acreditaram que ele tivesse sido cego e recebido a vista, enquanto não chamaram os pais do que fora curado,
19 - e lhes perguntaram: É este o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como, pois, vê agora?
20 - Responderam seus pais: Sabemos que este é o nosso filho, e que nasceu cego;
21 - mas como agora vê, não sabemos; ou quem lhe abriu os olhos, nós não sabemos; perguntai a ele mesmo; tem idade; ele falará por si mesmo.
22 - Isso disseram seus pais, porque temiam os judeus, porquanto já tinham estes combinado que se alguém confessasse ser Jesus o Cristo, fosse expulso da sinagoga.
23 - Por isso é que seus pais disseram: Tem idade, perguntai-lho a ele mesmo.
24 - Então chamaram pela segunda vez o homem que fora cego, e lhe disseram: Dá glória a Deus; nós sabemos que esse homem é pecador.
25 - Respondeu ele: Se é pecador, não sei; uma coisa sei: eu era cego, e agora vejo.
26 - Perguntaram-lhe pois: Que foi que te fez? Como te abriu os olhos?
27 - Respondeu-lhes: Já vo-lo disse, e não atendestes; para que o quereis tornar a ouvir? Acaso também vós quereis tornar-vos discípulos dele?
28 - Então o injuriaram, e disseram: Discípulo dele és tu; nós porém, somos discípulos de Moisés.
29 - Sabemos que Deus falou a Moisés; mas quanto a este, não sabemos donde é.
30 - Respondeu-lhes o homem: Nisto, pois, está a maravilha: não sabeis donde ele é, e entretanto ele me abriu os olhos;
31 - sabemos que Deus não ouve a pecadores; mas, se alguém for temente a Deus, e fizer a sua vontade, a esse ele ouve.
32 - Desde o princípio do mundo nunca se ouviu que alguém abrisse os olhos a um cego de nascença.
33 - Se este não fosse de Deus, nada poderia fazer.
34 - Replicaram-lhe eles: Tu nasceste todo em pecados, e vens nos ensinar a nós? E expulsaram-no.
35 - Soube Jesus que o haviam expulsado; e achando-o perguntou-lhe: Crês tu no Filho do homem?
36 - Respondeu ele: Quem é, senhor, para que nele creia?
37 - Disse-lhe Jesus: Já o viste, e é ele quem fala contigo.
38 - Disse o homem: Creio, Senhor! E o adorou.
39 - Prosseguiu então Jesus: Eu vim a este mundo para juízo, a fim de que os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos.
40 - Alguns fariseus que ali estavam com ele, ouvindo isso, perguntaram-lhe: Porventura somos nós também cegos?
41 - Respondeu-lhes Jesus: Se fosseis cegos, não teríeis pecado; mas como agora dizeis: Nós vemos, permanece o vosso pecado.
Capítulo - 10
1 - Em verdade, em verdade vos digo: quem não entra pela porta no aprisco das ovelhas, mas sobe por outra parte, esse é ladrão e salteador.
2 - Mas o que entra pela porta é o pastor das ovelhas.
3 - A este o porteiro abre; e as ovelhas ouvem a sua voz; e ele chama pelo nome as suas ovelhas, e as conduz para fora.
4 - Depois de conduzir para fora todas as que lhe pertencem, vai adiante delas, e as ovelhas o seguem, porque conhecem a sua voz;
5 - mas de modo algum seguirão o estranho, antes fugirão dele, porque não conhecem a voz dos estranhos.
6 - Jesus propôs-lhes esta parábola, mas eles não entenderam o que era que lhes dizia.
7 - Tornou, pois, Jesus a dizer-lhes: Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das ovelhas.
8 - Todos quantos vieram antes de mim são ladrões e salteadores; mas as ovelhas não os ouviram.
9 - Eu sou a porta; se alguém entrar a casa; o filho fica entrará e sairá, e achará pastagens.
10 - O ladrão não vem senão para roubar, matar e destruir; eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância.
11 - Eu sou o bom pastor; o bom pastor dá a sua vida pelas ovelhas.
12 - Mas o que é mercenário, e não pastor, de quem não são as ovelhas, vendo vir o lobo, deixa as ovelhas e foge; e o lobo as arrebata e dispersa.
13 - Ora, o mercenário foge porque é mercenário, e não se importa com as ovelhas.
14 - Eu sou o bom pastor; conheço as minhas ovelhas, e elas me conhecem,
15 - assim como o Pai me conhece e eu conheço o Pai; e dou a minha vida pelas ovelhas.
16 - Tenho ainda outras ovelhas que não são deste aprisco; a essas também me importa conduzir, e elas ouvirão a minha voz; e haverá um rebanho e um pastor.
17 - Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para a retomar.
18 - Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho autoridade para a dar, e tenho autoridade para retomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.
19 - Por causa dessas palavras, houve outra dissensão entre os judeus.
20 - E muitos deles diziam: Tem demônio, e perdeu o juízo; por que o escutais?
21 - Diziam outros: Essas palavras não são de quem está endemoninhado; pode porventura um demônio abrir os olhos aos cegos?
22 - Celebrava-se então em Jerusalém a festa da dedicação. E era inverno.
23 - Andava Jesus passeando no templo, no pórtico de Salomão.
24 - Rodearam-no, pois, os judeus e lhe perguntavam: Até quando nos deixarás perplexos? Se tu és o Cristo, dize-no-lo abertamente.
25 - Respondeu-lhes Jesus: Já vo-lo disse, e não credes. As obras que eu faço em nome de meu Pai, essas dão testemunho de mim.
26 - Mas vós não credes, porque não sois das minhas ovelhas.
27 - As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu as conheço, e elas me seguem;
28 - eu lhes dou a vida eterna, e jamais perecerão; e ninguém as arrebatará da minha mão.
29 - Meu Pai, que mas deu, é maior do que todos; e ninguém pode arrebatá-las da mão de meu Pai.
30 - Eu e o Pai somos um.
31 - Os judeus pegaram então outra vez em pedras para o apedrejar.
32 - Disse-lhes Jesus: Muitas obras boas da parte de meu Pai vos tenho mostrado; por qual destas obras ides apedrejar-me?
33 - Responderam-lhe os judeus: Não é por nenhuma obra boa que vamos apedrejar-te, mas por blasfêmia; e porque, sendo tu homem, te fazes Deus.
34 - Tornou-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: Vós sois deuses?
35 - Se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida {e a Escritura não pode ser anulada},
36 - àquele a quem o Pai santificou, e enviou ao mundo, dizeis vós: Blasfemas; porque eu disse: Sou Filho de Deus?
37 - Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis.
38 - Mas se as faço, embora não me creiais a mim, crede nas obras; para que entendais e saibais que o Pai está em mim e eu no Pai.
39 - Outra vez, pois, procuravam prendê-lo; mas ele lhes escapou das mãos.
40 - E retirou-se de novo para além do Jordão, para o lugar onde João batizava no princípio; e ali ficou.
41 - Muitos foram ter com ele, e diziam: João, na verdade, não fez sinal algum, mas tudo quanto disse deste homem era verdadeiro.
42 - E muitos ali creram nele.
Capítulo - 11
1 - Ora, estava enfermo um homem chamado Lázaro, de Betânia, aldeia de Maria e de sua irmã Marta.
2 - E Maria, cujo irmão Lázaro se achava enfermo, era a mesma que ungiu o Senhor com bálsamo, e lhe enxugou os pés com os seus cabelos.
3 - Mandaram, pois, as irmãs dizer a Jesus: Senhor, eis que está enfermo aquele que tu amas.
4 - Jesus, porém, ao ouvir isto, disse: Esta enfermidade não é para a morte, mas para glória de Deus, para que o Filho de Deus seja glorificado por ela.
5 - Ora, Jesus amava a Marta, e a sua irmã, e a Lázaro.
6 - Quando, pois, ouviu que estava enfermo, ficou ainda dois dias no lugar onde se achava.
7 - Depois disto, disse a seus discípulos: Vamos outra vez para Judéia.
8 - Disseram-lhe eles: Rabi, ainda agora os judeus procuravam apedrejar-te, e voltas para lá?
9 - Respondeu Jesus: Não são doze as horas do dia? Se alguém andar de dia, não tropeça, porque vê a luz deste mundo;
10 - mas se andar de noite, tropeça, porque nele não há luz.
11 - E, tendo assim falado, acrescentou: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas vou despertá-lo do sono.
12 - Disseram-lhe, pois, os discípulos: Senhor, se dorme, ficará bom.
13 - Mas Jesus falara da sua morte; eles, porém, entenderam que falava do repouso do sono.
14 - Então Jesus lhes disse claramente: Lázaro morreu;
15 - e, por vossa causa, folgo de que eu lá não estivesse, para que creiais; mas vamos ter com ele.
16 - Disse, pois, Tomé, chamado Dídimo, aos seus condiscípulos: Vamos nós também, para morrermos com ele.
17 - Chegando pois Jesus, encontrou-o já com quatro dias de sepultura.
18 - Ora, Betânia distava de Jerusalém cerca de quinze estádios.
19 - E muitos dos judeus tinham vindo visitar Marta e Maria, para as consolar acerca de seu irmão.
20 - Marta, pois, ao saber que Jesus chegava, saiu-lhe ao encontro; Maria, porém, ficou sentada em casa.
21 - Disse, pois, Marta a Jesus: Senhor, se meu irmão não teria morrido.
22 - E mesmo agora sei que tudo quanto pedires a Deus, Deus to concederá.
23 - Respondeu-lhe Jesus: Teu irmão há de ressurgir.
24 - Disse-lhe Marta: Sei que ele há de ressurgir na ressurreição, no último dia.
25 - Declarou-lhe Jesus: Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que morra, viverá;
26 - e todo aquele que vive, e crê em mim, jamais morrerá. Crês isto?
27 - Respondeu-lhe Marta: Sim, Senhor, eu creio que tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo.
28 - Dito isto, retirou-se e foi chamar em segredo a Maria, sua irmã, e lhe disse: O Mestre está aí, e te chama.
29 - Ela, ouvindo isto, levantou-se depressa, e foi ter com ele.
30 - Pois Jesus ainda não havia entrado na aldeia, mas estava no lugar onde Marta o encontrara.
31 - Então os judeus que estavam com Maria em casa e a consolavam, vendo-a levantar-se apressadamente e sair, seguiram-na, pensando que ia ao sepulcro para chorar ali.
32 - Tendo, pois, Maria chegado ao lugar onde Jesus estava, e vendo-a, lançou-se-lhe aos pés e disse: Senhor, se tu estiveras aqui, meu irmão não teria morrido.
33 - Jesus, pois, quando a viu chorar, e chorarem também os judeus que com ela vinham, comoveu-se em espírito, e perturbou-se,
34 - e perguntou: Onde o puseste? Responderam-lhe: Senhor, vem e vê.
35 - Jesus chorou.
36 - Disseram então os judeus: Vede como o amava.
37 - Mas alguns deles disseram: Não podia ele, que abriu os olhos ao cego, fazer também que este não morreste?
38 - Jesus, pois, comovendo-se outra vez, profundamente, foi ao sepulcro; era uma gruta, e tinha uma pedra posta sobre ela.
39 - Disse Jesus: Tirai a pedra. Marta, irmã do defunto, disse-lhe: Senhor, já cheira mal, porque está morto há quase quatro dias.
40 - Respondeu-lhe Jesus: Não te disse que, se creres, verás a glória de Deus?
41 - Tiraram então a pedra. E Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, graças te dou, porque me ouviste.
42 - Eu sabia que sempre me ouves; mas por causa da multidão que está em redor é que assim falei, para que eles creiam que tu me enviaste.
43 - E, tendo dito isso, clamou em alta voz: Lázaro, vem para fora!
44 - Saiu o que estivera morto, ligados os pés e as mãos com faixas, e o seu rosto envolto num lenço. Disse-lhes Jesus: Desligai-o e deixai-o ir.
45 - Muitos, pois, dentre os judeus que tinham vindo visitar Maria, e que tinham visto o que Jesus fizera, creram nele.
46 - Mas alguns deles foram ter com os fariseus e disseram-lhes o que Jesus tinha feito.
47 - Então os principais sacerdotes e os fariseus reuniram o sinédrio e diziam: Que faremos? porquanto este homem vem operando muitos sinais.
48 - Se o deixarmos assim, todos crerão nele, e virão os romanos, e nos tirarão tanto o nosso lugar como a nossa nação.
49 - Um deles, porém, chamado Caifás, que era sumo sacerdote naquele ano, disse-lhes: Vós nada sabeis,
50 - nem considerais que vos convém que morra um só homem pelo povo, e que não pereça a nação toda.
51 - Ora, isso não disse ele por si mesmo; mas, sendo o sumo sacerdote naquele ano, profetizou que Jesus havia de morrer pela nação,
52 - e não somente pela nação, mas também para congregar num só corpo os filhos de Deus que estão dispersos.
53 - Desde aquele dia, pois, tomavam conselho para o matarem.
54 - De sorte que Jesus já não andava manifestamente entre os judeus, mas retirou-se dali para a região vizinha ao deserto, a uma cidade chamada Efraim; e ali demorou com os seus discípulos.
55 - Ora, estava próxima a páscoa dos judeus, e dessa região subiram muitos a Jerusalém, antes da páscoa, para se purificarem.
56 - Buscavam, pois, a Jesus e diziam uns aos outros, estando no templo: Que vos parece? Não virá ele à festa?
57 - Ora, os principais sacerdotes e os fariseus tinham dado ordem que, se alguém soubesse onde ele estava, o denunciasse, para que o prendessem.
Capítulo - 12
1 - Veio, pois, Jesus seis dias antes da páscoa, a Betânia, onde estava Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos.
2 - Deram-lhe ali uma ceia; Marta servia, e Lázaro era um dos que estavam à mesa com ele.
3 - Então Maria, tomando uma libra de bálsamo de nardo puro, de grande preço, ungiu os pés de Jesus, e os enxugou com os seus cabelos; e encheu-se a casa do cheiro do bálsamo.
4 - Mas Judas Iscariotes, um dos seus discípulos, aquele que o havia de trair disse:
5 - Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres?
6 - Ora, ele disse isto, não porque tivesse cuidado dos pobres, mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, subtraía o que nela se lançava.
7 - Respondeu, pois Jesus: Deixa-a; para o dia da minha preparação para a sepultura o guardou;
8 - porque os pobres sempre os tendes convosco; mas a mim nem sempre me tendes.
9 - E grande número dos judeus chegou a saber que ele estava ali: e afluiram, não só por causa de Jesus mas também para verem a Lázaro, a quem ele ressuscitara dentre os mortos.
10 - Mas os principais sacerdotes deliberaram matar também a Lázaro;
11 - porque muitos, por causa dele, deixavam os judeus e criam em Jesus.
12 - No dia seguinte, as grandes multidões que tinham vindo à festa, ouvindo dizer que Jesus vinha a Jerusalém,
13 - tomaram ramos de palmeiras, e saíram-lhe ao encontro, e clamavam: Hosana! Bendito o que vem em nome do Senhor! Bendito o rei de Israel!
14 - E achou Jesus um jumentinho e montou nele, conforme está escrito:
15 - Não temas, ó filha de Sião; eis que vem teu Rei, montado sobre o filho de uma jumenta.
16 - Os seus discípulos, porém, a princípio não entenderam isto; mas quando Jesus foi glorificado, então eles se lembraram de que estas coisas estavam escritas a respeito dele, e de que assim lhe fizeram.
17 - Dava-lhe, pois, testemunho a multidão que estava com ele quando chamara a Lázaro da sepultura e o ressuscitara dentre os mortos;
18 - e foi por isso que a multidão lhe saiu ao encontro, por ter ouvido que ele fizera este sinal.
19 - De sorte que os fariseus disseram entre si: Vedes que nada aproveitais? eis que o mundo inteiro vai após ele.
20 - Ora, entre os que tinham subido a adorar na festa havia alguns gregos.
21 - Estes, pois, dirigiram-se a Felipe, que era de Betsaida da Galiléia, e rogaram-lhe, dizendo: Senhor, queríamos ver a Jesus.
22 - Felipe foi dizê-lo a André, e então André e Felipe foram dizê-lo a Jesus.
23 - Respondeu-lhes Jesus: É chegada a hora de ser glorificado o Filho do homem.
24 - Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo caindo na terra não morrer, fica ele só; mas se morrer, dá muito fruto.
25 - Quem ama a sua vida, perdê-la-á; e quem neste mundo odeia a sua vida, guardá-la-á para a vida eterna.
26 - Se alguém me quiser servir, siga-me; e onde eu estiver, ali estará também o meu servo; se alguém me servir, o Pai o honrará.
27 - Agora a minha alma está perturbada; e que direi eu? Pai, salva-me desta hora? Mas para isto vim a esta hora.
28 - Pai, glorifica o teu nome. Veio, então, do céu esta voz: Já o tenho glorificado, e outra vez o glorificarei.
29 - A multidão, pois, que ali estava, e que a ouvira, dizia ter havido um trovão; outros diziam: Um anjo lhe falou.
30 - Respondeu Jesus: Não veio esta voz por minha causa, mas por causa de vós.
31 - Agora é o juízo deste mundo; agora será expulso o príncipe deste mundo.
32 - E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim.
33 - Isto dizia, significando de que modo havia de morrer.
34 - Respondeu-lhe a multidão: Nós temos ouvido da lei que o Cristo permanece para sempre; e como dizes tu: Importa que o Filho do homem seja levantado? Quem é esse Filho do homem?
35 - Disse-lhes então Jesus: Ainda por um pouco de tempo a luz está entre vós. Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem; pois quem anda nas trevas não sabe para onde vai.
36 - Enquanto tendes a luz, crede na luz, para que vos torneis filhos da luz. Havendo Jesus assim falado, retirou-se e escondeu-se deles.
37 - E embora tivesse operado tantos sinais diante deles, não criam nele;
38 - para que se cumprisse a palavra do profeta Isaías: Senhor, quem creu em nossa pregação? e aquem foi revelado o braço do Senhor?
39 - Por isso não podiam crer, porque, como disse ainda Isaías:
40 - Cegou-lhes os olhos e endureceu-lhes o coração, para que não vejam com os olhos e entendam com o coração, e se convertam, e eu os cure.
41 - Estas coisas disse Isaías, porque viu a sua glória, e dele falou.
42 - Contudo, muitos dentre as próprias autoridades creram nele; mas por causa dos fariseus não o confessavam, para não serem expulsos da sinagoga;
43 - porque amaram mais a glória dos homens do que a glória de Deus.
44 - Clamou Jesus, dizendo: Quem crê em mim, crê, não em mim, mas naquele que me enviou.
45 - E quem me vê a mim, vê aquele que me enviou.
46 - Eu, que sou a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça nas trevas.
47 - E, se alguém ouvir as minhas palavras, e não as guardar, eu não o julgo; pois eu vim, não para julgar o mundo, mas para salvar o mundo.
48 - Quem me rejeita, e não recebe as minhas palavras, já tem quem o julgue; a palavra que tenho pregado, essa o julgará no último dia.
49 - Porque eu não falei por mim mesmo; mas o Pai, que me enviou, esse me deu mandamento quanto ao que dizer e como falar.
50 - E sei que o seu mandamento é vida eterna. Aquilo, pois, que eu falo, falo-o exatamente como o Pai me ordenou.
Capítulo - 13
1 - Antes da festa da páscoa, sabendo Jesus que era chegada a sua hora de passar deste mundo para o Pai, e havendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.
2 - Enquanto ceavam, tendo já o Diabo posto no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, que o traísse,
3 - Jesus, sabendo que o Pai lhe entregara tudo nas mãos, e que viera de Deus e para Deus voltava,
4 - levantou-se da ceia, tirou o manto e, tomando uma toalha, cingiu-se.
5 - Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos, e a enxugar-lhos com a toalha com que estava cingido.
6 - Chegou, pois, a Simão Pedro, que lhe disse: Senhor, lavas-me os pés a mim?
7 - Respondeu-lhe Jesus: O que eu faço, tu não o sabes agora; mas depois o entenderás.
8 - Tornou-lhe Pedro: Nunca me lavarás os pés. Replicou-lhe Jesus: Se eu não te lavar, não tens parte comigo.
9 - Disse-lhe Simão Pedro: Senhor, não somente os meus pés, mas também as mãos e a cabeça.
10 - Respondeu-lhe Jesus: Aquele que se banhou não necessita de lavar senão os pés, pois no mais está todo limpo; e vós estais limpos, mas não todos.
11 - Pois ele sabia quem o estava traindo; por isso disse: Nem todos estais limpos.
12 - Ora, depois de lhes ter lavado os pés, tomou o manto, tornou a reclinar-se à mesa e perguntou-lhes: Entendeis o que vos tenho feito?
13 - Vós me chamais Mestre e Senhor; e dizeis bem, porque eu o sou.
14 - Ora, se eu, o Senhor e Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros.
15 - Porque eu vos dei exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também.
16 - Em verdade, em verdade vos digo: Não é o servo maior do que o seu senhor, nem o enviado maior do que aquele que o enviou.
17 - Se sabeis estas coisas, bem-aventurados sois se as praticardes.
18 - Não falo de todos vós; eu conheço aqueles que escolhi; mas para que se cumprisse a escritura: O que comia do meu pão, levantou contra mim o seu calcanhar.
19 - Desde já no-lo digo, antes que suceda, para que, quando suceder, creiais que eu sou.
20 - Em verdade, em verdade vos digo: Quem receber aquele que eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe a mim, recebe aquele que me enviou.
21 - Tendo Jesus dito isto, turbou-se em espírito, e declarou: Em verdade, em verdade vos digo que um de vós me há de trair.
22 - Os discípulos se entreolhavam, perplexos, sem saber de quem ele falava.
23 - Ora, achava-se reclinado sobre o peito de Jesus um de seus discípulos, aquele a quem Jesus amava.
24 - A esse, pois, fez Simão Pedro sinal, e lhe pediu: Pergunta-lhe de quem é que fala.
25 - Aquele discípulo, recostando-se assim ao peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor, quem é?
26 - Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tendo, pois, molhado um bocado de pão, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.
27 - E, logo após o bocado, entrou nele Satanás. Disse-lhe, pois, Jesus: O que fazes, faze-o depressa.
28 - E nenhum dos que estavam à mesa percebeu a que propósito lhe disse isto;
29 - pois, como Judas tinha a bolsa, pensavam alguns que Jesus lhe queria dizer: Compra o que nos é necessário para a festa; ou, que desse alguma coisa aos pobres.
30 - Então ele, tendo recebido o bocado saiu logo. E era noite.
31 - Tendo ele, pois, saído, disse Jesus: Agora é glorificado o Filho do homem, e Deus é glorificado nele;
32 - se Deus é glorificado nele, também Deus o glorificará em si mesmo, e logo o há de glorificar.
33 - Filhinhos, ainda por um pouco estou convosco. Procurar-me-eis; e, como eu disse aos judeus, também a vós o digo agora: Para onde eu vou, não podeis vós ir.
34 - Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros.
35 - Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros.
36 - Perguntou-lhe Simão Pedro: Senhor, para onde vais? Respondeu Jesus; Para onde eu vou, não podes agora seguir-me; mais tarde, porém, me seguirás.
37 - Disse-lhe Pedro: Por que não posso seguir-te agora? Por ti darei a minha vida.
38 - Respondeu Jesus: Darás a tua vida por mim? Em verdade, em verdade te digo: Não cantará o galo até que me tenhas negado três vezes.
Capítulo - 14
1 - Não se turbe o vosso coração; credes em Deus, crede também em mim.
2 - Na casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito; vou preparar-vos lugar.
3 - E, se eu for e vos preparar lugar, virei outra vez, e vos tomarei para mim mesmo, para que onde eu estiver estejais vós também.
4 - E para onde eu vou vós conheceis o caminho.
5 - Disse-lhe Tomé: Senhor, não sabemos para onde vais; e como podemos saber o caminho?
6 - Respondeu-lhe Jesus: Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
7 - Se vós me conhecêsseis a mim, também conheceríeis a meu Pai; e já desde agora o conheceis, e o tendes visto.
8 - Disse-lhe Felipe: Senhor, mostra-nos o Pai, e isso nos basta.
9 - Respondeu-lhe Jesus: Há tanto tempo que estou convosco, e ainda não me conheces, Felipe? Quem me viu a mim, viu o Pai; como dizes tu: Mostra-nos o Pai?
10 - Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim, é quem faz as suas obras.
11 - Crede-me que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim; crede ao menos por causa das mesmas obras.
12 - Em verdade, em verdade vos digo: Aquele que crê em mim, esse também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas; porque eu vou para o Pai;
13 - e tudo quanto pedirdes em meu nome, eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho.
14 - Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu a farei.
15 - Se me amardes, guardareis os meus mandamentos.
16 - E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Ajudador, para que fique convosco para sempre.
17 - a saber, o Espírito da verdade, o qual o mundo não pode receber; porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque ele habita convosco, e estará em vós.
18 - Não vos deixarei órfãos; voltarei a vós.
19 - Ainda um pouco, e o mundo não me verá mais; mas vós me vereis, porque eu vivo, e vós vivereis.
20 - Naquele dia conhecereis que estou em meu Pai, e vós em mim, e eu em vós.
21 - Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado de meu Pai, e eu o amarei, e me manifestarei a ele.
22 - Perguntou-lhe Judas {não o Iscariotes}: O que houve, Senhor, que te hás de manifestar a nós, e não ao mundo?
23 - Respondeu-lhe Jesus: Se alguém me amar, guardará a minha palavra; e meu Pai o amará, e viremos a ele, e faremos nele morada.
24 - Quem não me ama, não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que estais ouvindo não é minha, mas do Pai que me enviou.
25 - Estas coisas vos tenho falado, estando ainda convosco.
26 - Mas o Ajudador, o Espírito Santo a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto eu vos tenho dito.
27 - Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; eu não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize.
28 - Ouvistes que eu vos disse: Vou, e voltarei a vós. Se me amásseis, alegrar-vos-íeis de que eu vá para o Pai; porque o Pai é maior do que eu.
29 - Eu vo-lo disse agora, antes que aconteça, para que, quando acontecer, vós creiais.
30 - Já não falarei muito convosco, porque vem o príncipe deste mundo, e ele nada tem em mim;
31 - mas, assim como o Pai me ordenou, assim mesmo faço, para que o mundo saiba que eu amo o Pai. Levantai-vos, vamo-nos daqui.
Capítulo - 15
1 - Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o viticultor.
2 - Toda vara em mim que não dá fruto, ele a corta; e toda vara que dá fruto, ele a limpa, para que dê mais fruto.
3 - Vós já estais limpos pela palavra que vos tenho falado.
4 - Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós; como a vara de si mesma não pode dar fruto, se não permanecer na videira, assim também vós, se não permanecerdes em mim.
5 - Eu sou a videira; vós sois as varas. Quem permanece em mim e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer.
6 - Quem não permanece em mim é lançado fora, como a vara, e seca; tais varas são recolhidas, lançadas no fogo e queimadas.
7 - Se vós permanecerdes em mim, e as minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes, e vos será feito.
8 - Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos.
9 - Como o Pai me amou, assim também eu vos amei; permanecei no meu amor.
10 - Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai, e permaneço no seu amor.
11 - Estas coisas vos tenho dito, para que o meu gozo permaneça em vós, e o vosso gozo seja completo.
12 - O meu mandamento é este: Que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei.
13 - Ninguém tem maior amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos.
14 - Vós sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando.
15 - Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas chamei-vos amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos dei a conhecer.
16 - Vós não me escolhestes a mim mas eu vos escolhi a vós, e vos designei, para que vades e deis frutos, e o vosso fruto permaneça, a fim de que tudo quanto pedirdes ao Pai em meu nome, ele vo-lo conceda.
17 - Isto vos mando: que vos ameis uns aos outros.
18 - Se o mundo vos odeia, sabei que, primeiro do que a vós, me odiou a mim.
19 - Se fôsseis do mundo, o mundo amaria o que era seu; mas, porque não sois do mundo, antes eu vos escolhi do mundo, por isso é que o mundo vos odeia.
20 - Lembrai-vos da palavra que eu vos disse: Não é o servo maior do que o seu senhor. Se a mim me perseguiram, também vos perseguirão a vós; se guardaram a minha palavra, guardarão também a vossa.
21 - Mas tudo isto vos farão por causa do meu nome, porque não conhecem aquele que me enviou.
22 - Se eu não viera e não lhes falara, não teriam pecado; agora, porém, não têm desculpa do seu pecado.
23 - Aquele que me odeia a mim, odeia também a meu Pai.
24 - Se eu entre eles não tivesse feito tais obras, quais nenhum outro fez, não teriam pecado; mas agora, não somente viram, mas também odiaram tanto a mim como a meu Pai.
25 - Mas isto é para que se cumpra a palavra que está escrita na sua lei: Odiaram-me sem causa.
26 - Quando vier o Ajudador, que eu vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da verdade, que do Pai procede, esse dará testemunho de mim;
27 - e também vós dareis testemunho, porque estais comigo desde o princípio.
Capítulo - 16
1 - Tenho-vos dito estas coisas para que não vos escandalizeis.
2 - Expulsar-vos-ão das sinagogas; ainda mais, vem a hora em que qualquer que vos matar julgará prestar um serviço a Deus.
3 - E isto vos farão, porque não conheceram ao Pai nem a mim.
4 - Mas tenho-vos dito estas coisas, a fim de que, quando chegar aquela hora, vos lembreis de que eu vo-las tinha dito. Não vo-las disse desde o princípio, porque estava convosco.
5 - Agora, porém, vou para aquele que me enviou; e nenhum de vós me pergunta: Para onde vais?
6 - Antes, porque vos disse isto, o vosso coração se encheu de tristeza.
7 - Todavia, digo-vos a verdade, convém-vos que eu vá; pois se eu não for, o Ajudador não virá a vós; mas, se eu for, vo-lo enviarei.
8 - E quando ele vier, convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo:
9 - do pecado, porque não crêem em mim;
10 - da justiça, porque vou para meu Pai, e não me vereis mais,
11 - e do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.
12 - Ainda tenho muito que vos dizer; mas vós não o podeis suportar agora.
13 - Quando vier, porém, aquele, o Espírito da verdade, ele vos guiará a toda a verdade; porque não falará por si mesmo, mas dirá o que tiver ouvido, e vos anunciará as coisas vindouras.
14 - Ele me glorificará, porque receberá do que é meu, e vo-lo anunciará.
15 - Tudo quanto o Pai tem é meu; por isso eu vos disse que ele, recebendo do que é meu, vo-lo anunciará.
16 - Um pouco, e já não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis.
17 - Então alguns dos seus discípulos perguntaram uns para os outros: Que é isto que nos diz? Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis; e: Porquanto vou para o Pai?
18 - Diziam pois: Que quer dizer isto: Um pouco? Não compreendemos o que ele está dizendo.
19 - Percebeu Jesus que o queriam interrogar, e disse-lhes: Indagais entre vós acerca disto que disse: Um pouco, e não me vereis; e outra vez um pouco, e ver-me-eis?
20 - Em verdade, em verdade, vos digo que vós chorareis e vos lamentareis, mas o mundo se alegrará; vós estareis tristes, porém a vossa tristeza se converterá em alegria.
21 - A mulher, quando está para dar à luz, sente tristeza porque é chegada a sua hora; mas, depois de ter dado à luz a criança, já não se lembra da aflição, pelo gozo de haver um homem nascido ao mundo.
22 - Assim também vós agora, na verdade, tendes tristeza; mas eu vos tornarei a ver, e alegrar-se-á o vosso coração, e a vossa alegria ninguém vo-la tirará.
23 - Naquele dia nada me perguntareis. Em verdade, em verdade vos digo que tudo quanto pedirdes ao Pai, ele vo-lo concederá em meu nome.
24 - Até agora nada pedistes em meu nome; pedi, e recebereis, para que o vosso gozo seja completo.
25 - Disse-vos estas coisas por figuras; chega, porém, a hora em que vos não falarei mais por figuras, mas abertamente vos falarei acerca do Pai.
26 - Naquele dia pedireis em meu nome, e não vos digo que eu rogarei por vós ao Pai;
27 - pois o Pai mesmo vos ama; visto que vós me amastes e crestes que eu saí de Deus.
28 - Saí do Pai, e vim ao mundo; outra vez deixo o mundo, e vou para o Pai.
29 - Disseram os seus discípulos: Eis que agora falas abertamente, e não por figura alguma.
30 - Agora conhecemos que sabes todas as coisas, e não necessitas de que alguém te interrogue. Por isso cremos que saíste de Deus.
31 - Respondeu-lhes Jesus: Credes agora?
32 - Eis que vem a hora, e já é chegada, em que vós sereis dispersos cada um para o seu lado, e me deixareis só; mas não estou só, porque o Pai está comigo.
33 - Tenho-vos dito estas coisas, para que em mim tenhais paz. No mundo tereis tribulações; mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.
Capítulo - 17
1 - Depois de assim falar, Jesus, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o Filho te glorifique;
2 - assim como lhe deste autoridade sobre toda a carne, para que dê a vida eterna a todos aqueles que lhe tens dado.
3 - E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, como o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, aquele que tu enviaste.
4 - Eu te glorifiquei na terra, completando a obra que me deste para fazer.
5 - Agora, pois, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que eu tinha contigo antes que o mundo existisse.
6 - Manifestei o teu nome aos homens que do mundo me deste. Eram teus, e tu mos deste; e guardaram a tua palavra.
7 - Agora sabem que tudo quanto me deste provém de ti;
8 - porque eu lhes dei as palavras que tu me deste, e eles as receberam, e verdadeiramente conheceram que saí de ti, e creram que tu me enviaste.
9 - Eu rogo por eles; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me tens dado, porque são teus;
10 - todas as minhas coisas são tuas, e as tuas coisas são minhas; e neles sou glorificado.
11 - Eu não estou mais no mundo; mas eles estão no mundo, e eu vou para ti. Pai santo, guarda-os no teu nome, o qual me deste, para que eles sejam um, assim como nós.
12 - Enquanto eu estava com eles, eu os guardava no teu nome que me deste; e os conservei, e nenhum deles se perdeu, senão o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura.
13 - Mas agora vou para ti; e isto falo no mundo, para que eles tenham a minha alegria completa em si mesmos.
14 - Eu lhes dei a tua palavra; e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
15 - Não rogo que os tires do mundo, mas que os guardes do Maligno.
16 - Eles não são do mundo, assim como eu não sou do mundo.
17 - Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.
18 - Assim como tu me enviaste ao mundo, também eu os enviarei ao mundo.
19 - E por eles eu me santifico, para que também eles sejam santificados na verdade.
20 - E rogo não somente por estes, mas também por aqueles que pela sua palavra hão de crer em mim;
21 - para que todos sejam um; assim como tu, ó Pai, és em mim, e eu em ti, que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.
22 - E eu lhes dei a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um;
23 - eu neles, e tu em mim, para que eles sejam perfeitos em unidade, a fim de que o mundo conheça que tu me enviaste, e que os amaste a eles, assim como me amaste a mim.
24 - Pai, desejo que onde eu estou, estejam comigo também aqueles que me tens dado, para verem a minha glória, a qual me deste; pois que me amaste antes da fundação do mundo.
25 - Pai justo, o mundo não te conheceu, mas eu te conheço; conheceram que tu me enviaste;
26 - e eu lhes fiz conhecer o teu nome, e lho farei conhecer ainda; para que haja neles aquele amor com que me amaste, e também eu neles esteja.
Capítulo - 18
1 - Tendo Jesus dito isto, saiu com seus discípulos para o outro lado do ribeiro de Cedrom, onde havia um jardim, e com eles ali entrou.
2 - Ora, Judas, que o traía, também conhecia aquele lugar, porque muitas vezes Jesus se reunira ali com os discípulos.
3 - Tendo, pois, Judas tomado a corte e uns guardas da parte dos principais sacerdotes e fariseus, chegou ali com lanternas archotes e armas.
4 - Sabendo, pois, Jesus tudo o que lhe havia de suceder, adiantou-se e perguntou-lhes: A quem buscais?
5 - Responderam-lhe: A Jesus, o nazareno. Disse-lhes Jesus: Sou eu. E Judas, que o traía, também estava com eles.
6 - Quando Jesus lhes disse: Sou eu, recuaram, e caíram por terra.
7 - Tornou-lhes então a perguntar: A quem buscais? e responderam: A Jesus, o nazareno.
8 - Replicou-lhes Jesus: Já vos disse que sou eu; se, pois, é a mim que buscais, deixai ir estes;
9 - para que se cumprisse a palavra que dissera: Dos que me tens dado, nenhum deles perdi.
10 - Então Simão Pedro, que tinha uma espada, desembainhou-a e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. O nome do servo era Malco.
11 - Disse, pois, Jesus a Pedro: Mete a tua espada na bainha; não hei de beber o cálice que o Pai me deu?
12 - Então a escolta, e o comandante, e os guardas dos judeus prenderam a Jesus, e o maniataram.
13 - E conduziram-no primeiramente a Anás; pois era sogro de Caifás, sumo sacerdote naquele ano.
14 - Ora, Caifás era quem aconselhara aos judeus que convinha morrer um homem pelo povo.
15 - Simão Pedro e outro discípulo seguiam a Jesus. Este discípulo era conhecido do sumo sacerdote, e entrou com Jesus no pátio do sumo sacerdote,
16 - enquanto Pedro ficava da parte de fora, à porta. Saiu, então, o outro discípulo que era conhecido do sumo sacerdote, falou à porteira, e levou Pedro para dentro.
17 - Então a porteira perguntou a Pedro: Não és tu também um dos discípulos deste homem? Respondeu ele: Não sou.
18 - Ora, estavam ali os servos e os guardas, que tinham acendido um braseiro e se aquentavam, porque fazia frio; e também Pedro estava ali em pé no meio deles, aquentando-se.
19 - Então o sumo sacerdote interrogou Jesus acerca dos seus discípulos e da sua doutrina.
20 - Respondeu-lhe Jesus: Eu tenho falado abertamente ao mundo; eu sempre ensinei nas sinagogas e no templo, onde todos os judeus se congregam, e nada falei em oculto.
21 - Por que me perguntas a mim? pergunta aos que me ouviram o que é que lhes falei; eis que eles sabem o que eu disse.
22 - E, havendo ele dito isso, um dos guardas que ali estavam deu uma bofetada em Jesus, dizendo: É assim que respondes ao sumo sacerdote?
23 - Respondeu-lhe Jesus: Se falei mal, dá testemunho do mal; mas, se bem, por que me feres?
24 - Então Anás o enviou, maniatado, a Caifás, o sumo sacerdote.
25 - E Simão Pedro ainda estava ali, aquentando-se. Perguntaram-lhe, pois: Não és também tu um dos seus discípulos? Ele negou, e disse: Não sou.
26 - Um dos servos do sumo sacerdote, parente daquele a quem Pedro cortara a orelha, disse: Não te vi eu no jardim com ele?
27 - Pedro negou outra vez, e imediatamente o galo cantou.
28 - Depois conduziram Jesus da presença de Caifás para o pretório; era de manhã cedo; e eles não entraram no pretório, para não se contaminarem, mas poderem comer a páscoa.
29 - Então Pilatos saiu a ter com eles, e perguntou: Que acusação trazeis contra este homem?
30 - Responderam-lhe: Se ele não fosse malfeitor, não to entregaríamos.
31 - Disse-lhes, então, Pilatos: Tomai-o vós, e julgai-o segundo a vossa lei. Disseram-lhe os judeus: A nós não nos é lícito tirar a vida a ninguém.
32 - Isso foi para que se cumprisse a palavra que dissera Jesus, significando de que morte havia de morrer.
33 - Pilatos, pois, tornou a entrar no pretório, chamou a Jesus e perguntou-lhe: És tu o rei dos judeus?
34 - Respondeu Jesus: Dizes isso de ti mesmo, ou foram outros que to disseram de mim?
35 - Replicou Pilatos: Porventura sou eu judeu? O teu povo e os principais sacerdotes entregaram-te a mim; que fizeste?
36 - Respondeu Jesus: O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; entretanto o meu reino não é daqui.
37 - Perguntou-lhe, pois, Pilatos: Logo tu és rei? Respondeu Jesus: Tu dizes que eu sou rei. Eu para isso nasci, e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz.
38 - Perguntou-lhe Pilatos: Que é a verdade? E dito isto, de novo saiu a ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum.
39 - Tendes, porém, por costume que eu vos solte alguém por ocasião da páscoa; quereis, pois, que vos solte o rei dos judeus?
40 - Então todos tornaram a clamar dizendo: Este não, mas Barrabás. Ora, Barrabás era salteador.
Capítulo - 19
1 - Nisso, pois, Pilatos tomou a Jesus, e mandou açoitá-lo.
2 - E os soldados, tecendo uma coroa de espinhos, puseram-lha sobre a cabeça, e lhe vestiram um manto de púrpura;
3 - e chegando-se a ele, diziam: Salve, rei dos judeus! e davam-lhe bofetadas.
4 - Então Pilatos saiu outra vez, e disse-lhes: Eis aqui vo-lo trago fora, para que saibais que não acho nele crime algum.
5 - Saiu, pois, Jesus, trazendo a coroa de espinhos e o manto de púrpura. E disse-lhes Pilatos: Eis o homem!
6 - Quando o viram os principais sacerdotes e os guardas, clamaram, dizendo: Crucifica-o! Crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Tomai-o vós, e crucificai-o; porque nenhum crime acho nele.
7 - Responderam-lhe os judeus: Nós temos uma lei, e segundo esta lei ele deve morrer, porque se fez Filho de Deus.
8 - Ora, Pilatos, quando ouviu esta palavra, mais atemorizado ficou;
9 - e entrando outra vez no pretório, perguntou a Jesus: Donde és tu? Mas Jesus não lhe deu resposta.
10 - Disse-lhe, então, Pilatos: Não me respondes? não sabes que tenho autoridade para te soltar, e autoridade para te crucificar?
11 - Respondeu-lhe Jesus: Nenhuma autoridade terias sobre mim, se de cima não te fora dado; por isso aquele que me entregou a ti, maior pecado tem.
12 - Daí em diante Pilatos procurava soltá-lo; mas os judeus clamaram: Se soltares a este, não és amigo de César; todo aquele que se faz rei é contra César.
13 - Pilatos, pois, quando ouviu isto, trouxe Jesus para fora e sentou-se no tribunal, no lugar chamado Pavimento, e em hebraico Gabatá.
14 - Ora, era a preparação da páscoa, e cerca da hora sexta. E disse aos judeus: Eis o vosso rei.
15 - Mas eles clamaram: Tira-o! tira-o! crucifica-o! Disse-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso rei? responderam, os principais sacerdotes: Não temos rei, senão César.
16 - Então lho entregou para ser crucificado.
17 - Tomaram, pois, a Jesus; e ele, carregando a sua própria cruz, saiu para o lugar chamado Caveira, que em hebraico se chama Gólgota,
18 - onde o crucificaram, e com ele outros dois, um de cada lado, e Jesus no meio.
19 - E Pilatos escreveu também um título, e o colocou sobre a cruz; e nele estava escrito: JESUS O NAZARENO, O REI DOS JUDEUS.
20 - Muitos dos judeus, pois, leram este título; porque o lugar onde Jesus foi crucificado era próximo da cidade; e estava escrito em hebraico, latim e grego.
21 - Diziam então a Pilatos os principais sacerdotes dos judeus: Não escrevas: O rei dos judeus; mas que ele disse: Sou rei dos judeus.
22 - Respondeu Pilatos: O que escrevi, escrevi.
23 - Tendo, pois, os soldados crucificado a Jesus, tomaram as suas vestes, e fizeram delas quatro partes, para cada soldado uma parte. Tomaram também a túnica; ora a túnica não tinha costura, sendo toda tecida de alto a baixo.
24 - Pelo que disseram uns aos outros: Não a rasguemos, mas lancemos sortes sobre ela, para ver de quem será {para que se cumprisse a escritura que diz: Repartiram entre si as minhas vestes, e lançaram sortes}. E, de fato, os soldados assim fizeram.
25 - Estavam em pé, junto à cruz de Jesus, sua mãe, e a irmã de sua mãe, e Maria, mulher de Clôpas, e Maria Madalena.
26 - Ora, Jesus, vendo ali sua mãe, e ao lado dela o discípulo a quem ele amava, disse a sua mãe: Mulher, eis aí o teu filho.
27 - Então disse ao discípulo: Eis aí tua mãe. E desde aquela hora o discípulo a recebeu em sua casa.
28 - Depois, sabendo Jesus que todas as coisas já estavam consumadas, para que se cumprisse a Escritura, disse: Tenho sede.
29 - Estava ali um vaso cheio de vinagre. Puseram, pois, numa cana de hissopo uma esponja ensopada de vinagre, e lha chegaram à boca.
30 - Então Jesus, depois de ter tomado o vinagre, disse: está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.
31 - Ora, os judeus, como era a preparação, e para que no sábado não ficassem os corpos na cruz, pois era grande aquele dia de sábado, rogaram a Pilatos que se lhes quebrassem as pernas, e fossem tirados dali.
32 - Foram então os soldados e, na verdade, quebraram as pernas ao primeiro e ao outro que com ele fora crucificado;
33 - mas vindo a Jesus, e vendo que já estava morto, não lhe quebraram as pernas;
34 - contudo um dos soldados lhe furou o lado com uma lança, e logo saiu sangue e água.
35 - E é quem viu isso que dá testemunho, e o seu testemunho é verdadeiro; e sabe que diz a verdade, para que também vós creiais.
36 - Porque isto aconteceu para que se cumprisse a escritura: Nenhum dos seus ossos será quebrado.
37 - Também há outra escritura que diz: Olharão para aquele que traspassaram.
38 - Depois disto, José de Arimatéia, que era discípulo de Jesus, embora oculto por medo dos judeus, rogou a Pilatos que lhe permitisse tirar o corpo de Jesus; e Pilatos lho permitiu. Então foi e o tirou.
39 - E Nicodemos, aquele que anteriormente viera ter com Jesus de noite, foi também, levando cerca de cem libras duma mistura de mirra e aloés.
40 - Tomaram, pois, o corpo de Jesus, e o envolveram em panos de linho com as especiarias, como os judeus costumavam fazer na preparação para a sepultura.
41 - No lugar onde Jesus foi crucificado havia um jardim, e nesse jardim um sepulcro novo, em que ninguém ainda havia sido posto.
42 - Ali, pois, por ser a véspera do sábado dos judeus, e por estar perto aquele sepulcro, puseram a Jesus.
Capítulo - 20
1 - No primeiro dia da semana Maria Madalena foi ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu que a pedra fora removida do sepulcro.
2 - Correu, pois, e foi ter com Simão Pedro, e o outro discípulo, a quem Jesus amava, e disse-lhes: Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram.
3 - Saíram então Pedro e o outro discípulo e foram ao sepulcro.
4 - Corriam os dois juntos, mas o outro discípulo correu mais ligeiro do que Pedro, e chegou primeiro ao sepulcro;
5 - e, abaixando-se viu os panos de linho ali deixados, todavia não entrou.
6 - Chegou, pois, Simão Pedro, que o seguia, e entrou no sepulcro e viu os panos de linho ali deixados,
7 - e que o lenço, que estivera sobre a cabeça de Jesus, não estava com os panos, mas enrolado num lugar à parte.
8 - Então entrou também o outro discípulo, que chegara primeiro ao sepulcro, e viu e creu.
9 - Porque ainda não entendiam a escritura, que era necessário que ele ressurgisse dentre os mortos.
10 - Tornaram, pois, os discípulos para casa.
11 - Maria, porém, estava em pé, diante do sepulcro, a chorar. Enquanto chorava, abaixou-se a olhar para dentro do sepulcro,
12 - e viu dois anjos vestidos de branco sentados onde jazera o corpo de Jesus, um à cabeceira e outro aos pés.
13 - E perguntaram-lhe eles: Mulher, por que choras? Respondeu-lhes: Porque tiraram o meu Senhor, e não sei onde o puseram.
14 - Ao dizer isso, voltou-se para trás, e viu a Jesus ali em pé, mas não sabia que era Jesus.
15 - Perguntou-lhe Jesus: Mulher, por que choras? A quem procuras? Ela, julgando que fosse o jardineiro, respondeu-lhe: Senhor, se tu o levaste, dize-me onde o puseste, e eu o levarei.
17 - Disse-lhe Jesus: Deixa de me tocar, porque ainda não subi ao Pai; mas vai a meus irmãos e dize-lhes que eu subo para meu Pai e vosso Pai, meu Deus e vosso Deus.
18 - E foi Maria Madalena anunciar aos discípulos: Vi o Senhor!-e que ele lhe dissera estas coisas.
19 - Chegada, pois, a tarde, naquele dia, o primeiro da semana, e estando os discípulos reunidos com as portas cerradas por medo dos judeus, chegou Jesus, pôs-se no meio e disse-lhes: Paz seja convosco.
20 - Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Alegraram-se, pois, os discípulos ao verem o Senhor.
21 - Disse-lhes, então, Jesus segunda vez: Paz seja convosco; assim como o Pai me enviou, também eu vos envio a vós.
22 - E havendo dito isso, assoprou sobre eles, e disse-lhes: Recebei o Espírito Santo.
23 - Àqueles a quem perdoardes os pecados, são-lhes perdoados; e àqueles a quem os retiverdes, são-lhes retidos.
24 - Ora, Tomé, um dos doze, chamado Dídimo, não estava com eles quando veio Jesus.
25 - Diziam-lhe, pois, ou outros discípulos: Vimos o Senhor. Ele, porém, lhes respondeu: Se eu não vir o sinal dos cravos nas mãos, e não meter a mão no seu lado, de maneira nenhuma crerei.
26 - Oito dias depois estavam os discípulos outra vez ali reunidos, e Tomé com eles. Chegou Jesus, estando as portas fechadas, pôs-se no meio deles e disse: Paz seja convosco.
27 - Depois disse a Tomé: Chega aqui o teu dedo, e vê as minhas mãos; chega a tua mão, e mete-a no meu lado; e não mais sejas incrédulo, mas crente.
28 - Respondeu-lhe Tomé: Senhor meu, e Deus meu!
29 - Disse-lhe Jesus: Porque me viste, creste? Bem-aventurados os que não viram e creram.
30 - Jesus, na verdade, operou na presença de seus discípulos ainda muitos outros sinais que não estão escritos neste livro;
31 - estes, porém, estão escritos para que creiais que Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e para que, crendo, tenhais vida em seu nome.
Capítulo - 21
1 - Depois disto manifestou-se Jesus outra vez aos discípulos junto do mar de Tiberíades; e manifestou-se deste modo:
2 - Estavam juntos Simão Pedro, Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galiléia, os filhos de Zebedeu, e outros dois dos seus discípulos.
3 - Disse-lhes Simão Pedro: Vou pescar. Responderam-lhe: Nós também vamos contigo. Saíram e entraram no barco; e naquela noite nada apanharam.
4 - Mas ao romper da manhã, Jesus se apresentou na praia; todavia os discípulos não sabiam que era ele.
5 - Disse-lhes, pois, Jesus: Filhos, não tendes nada que comer? Responderam-lhe: Não.
6 - Disse-lhes ele: Lançai a rede à direita do barco, e achareis. Lançaram-na, pois, e já não a podiam puxar por causa da grande quantidade de peixes.
7 - Então aquele discípulo a quem Jesus amava disse a Pedro: Senhor. Quando, pois, Simão Pedro ouviu que era o Senhor, cingiu-se com a túnica, porque estava despido, e lançou-se ao mar;
8 - mas os outros discípulos vieram no barquinho, puxando a rede com os peixes, porque não estavam distantes da terra senão cerca de duzentos côvados.
9 - Ora, ao saltarem em terra, viram ali brasas, e um peixe posto em cima delas, e pão.
10 - Disse-lhes Jesus: Trazei alguns dos peixes que agora apanhastes.
11 - Entrou Simão Pedro no barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinqüenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede.
12 - Disse-lhes Jesus: Vinde, comei. Nenhum dos discípulos ousava perguntar-lhe: Quem és tu? sabendo que era o Senhor.
13 - Chegou Jesus, tomou o pão e deu-lho, e semelhantemente o peixe.
14 - Foi esta a terceira vez que Jesus se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressurgido dentre os mortos.
15 - Depois de terem comido, perguntou Jesus a Simão Pedro: Simão Pedro: Simão, filho de João, amas-me mais do que estes? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Apascenta os meus cordeirinhos.
16 - Tornou a perguntar-lhe: Simão, filho de João, amas-me? Respondeu-lhe: Sim, Senhor; tu sabes que te amo. Disse-lhe: Pastoreia as minhas ovelhas.
17 - Perguntou-lhe terceira vez: Simão, filho de João, amas-me? Entristeceu-se Pedro por lhe ter perguntado pela terceira vez: Amas-me? E respondeu-lhe: Senhor, tu sabes todas as coisas; tu sabes que te amo. Disse-lhe Jesus: Apascenta as minhas ovelhas.
18 - Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, te cingias a ti mesmo, e andavas por onde querias; mas, quando fores velho, estenderás as mãos e outro te cingirá, e te levará para onde tu não queres.
19 - Ora, isto ele disse, significando com que morte havia Pedro de glorificar a Deus. E, havendo dito isto, ordenou-lhe: Segue-me.
20 - E Pedro, virando-se, viu que o seguia aquele discípulo a quem Jesus amava, o mesmo que na ceia se recostara sobre o peito de Jesus e perguntara: Senhor, quem é o que te trai?
21 - Ora, vendo Pedro a este, perguntou a Jesus: Senhor, e deste que será?
22 - Respondeu-lhe Jesus: Se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso? Segue-me tu.
23 - Divulgou-se, pois, entre os irmãos este dito, que aquele discípulo não havia de morrer. Jesus, porém, não disse que não morreria, mas: se eu quiser que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso?
24 - Este é o discípulo que dá testemunho destas coisas e as escreveu; e sabemos que o seu testemunho é verdadeiro.
25 - E ainda muitas outras coisas há que Jesus fez; as quais, se fossem escritas uma por uma, creio que nem ainda no mundo inteiro caberiam os livros que se escrevessem.